O filho dele, Pedro Henrique Fujarra Penha, 32, compartilhou, com exclusividade para o UOL, um relato detalhado e emocionado sobre os últimos momentos de seu pai. “Ele não mencionou picada de aranha, apenas a preocupação com um possível infarto. Minha irmã foi super ágil pesquisando bons hospitais para o meu pai”, revelou.
A ferida na perna surgiu na terça-feira (9/7) e Cid procurou atendimento em um posto médico local, devido aos sintomas que estava apresentando. Depois, ele foi encaminhado para a Santa Casa de Valença, referência na região, onde os médicos realizaram procedimentos, mas ele não apresentou melhora significativa. Devido ao seu histórico de problemas cardíacos, foi levado para o Incar, em Santo Antônio de Jesus.
Quando Pedro chegou ao hospital, encontrou o pai consciente e comunicativo. Ele estava lúcido, conversando, aparentemente bem e tranquilo. E disse não ter sentido nenhuma picada antes do aparecimento da ferida.
“Ele falou muito sobre estar otimista e disse que tudo ia dar certo. Perguntei se ele achava que tinha sido uma aranha. Ele falou, ‘não senti nada.’ Perguntei se ele olhou a cama, o tênis, o lençol, onde ele sentou, onde ele pisou, e ele disse que não tinha sentido nada. Começaram a criar essa hipótese da aranha porque era uma ferida roxa, que em muitos casos pode parecer picada de aranha, mas poderia ser uma bactéria, poderia ser uma infecção, uma picada de outro bicho, não sei dizer”, conta o filho.
Pedro também falou sobre a preocupação do pai com os problemas cardíacos. “Ele entrou no hospital com suspeita de infarto, porque já tinha um histórico de infarto e uma insuficiência cardíaca significativa. A preocupação inicial não era nem a picada, mas sim o coração.”
Apesar disso, a ferida segue como ponto importante na causa da morte. “Não importa se foi uma picada de aranha, uma bactéria ou outra coisa. O que importa é que a ferida infeccionou e, por conta dos problemas cardíacos do meu pai, o quadro foi se agravando. Ele teve que tomar medicamentos fortes, como antibióticos, que acabaram forçando ainda mais o coração, e ele não resistiu”.
O UOL entrou em contato com a Prefeitura de Morro de São Paulo e a Santa Casa de Valença, para obter mais informações, mas até o momento não houve resposta aos questionamentos. A Seab (Secretaria de Saúde da Bahia) informou, em nota, que não comenta ou fornece informações sobre pacientes da rede de assistência estadual. A reportagem procurou o Ministério da Saúde, cujo protocolo é investigar os óbitos por animais peçonhentos, mas não recebeu resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
Paulo Goldoni, tecnologista do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, em São Paulo, afirma que não é possível determinar se Cid foi mesmo picado por uma aranha apenas pela descrição do caso. No entanto, ele diz que existem na Bahia 391 espécies de aranhas registradas. E que a presença da aranha-marrom (Loxosceles sp) em Morro de São Paulo, que fica no município de Cairu, não é rara como se pensa.
Segundo o especialista, a picada de aranha-marrom geralmente é imperceptível e pode apresentar dois tipos principais de manifestações clínicas. Na forma cutânea, que ocorre em 87% a 98% dos casos, os sintomas incluem dor, edema endurecido e eritema no local da picada, que se acentuam nas primeiras 24 a 72 horas.
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