quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Haja paciência! Filas no Ferry devem ficar grandes a partir de hoje

 

Por Hieros Vasconcelos

Todos os anos, quando o Natal se aproxima, Salvador muda de ritmo. A cidade começa a esvaziar lentamente, enquanto dois pontos concentram a ansiedade de quem parte: o Terminal de São Joaquim, no Comércio, e a Rodoviária, na região do

Iguatemi. É ali que se materializa o movimento de saída da capital rumo ao interior e às ilhas da Baía de Todos os Santos, num fluxo que mistura pressa, reencontros familiares e a memória das longas esperas que já se tornaram parte do imaginário coletivo do fim de ano.

No ferry-boat, a cena se repete com precisão quase ritualística. Carros carregados de malas, caixas de presentes e isopores disputam espaço na fila, enquanto motoristas calculam o tempo, observam o avanço lento dos veículos e trocam informações sobre o tamanho da espera. Em anos anteriores, a travessia chegou a exigir mais de oito horas de paciência, especialmente na noite da véspera e no próprio dia de Natal, quando a demanda atinge o pico.

Ontem, o cenário nas primeiras horas era mais tranquilo do que o habitual, o que surpreendeu muitos usuários. A fila avançava, ainda que lentamente, e o tempo de espera estava abaixo do registrado em Natais passados. O alívio, porém, vinha acompanhado de cautela. Quem conhece o sistema sabe que basta o cair da tarde para o quadro mudar radicalmente, com a chegada de trabalhadores que deixam Salvador após o expediente e seguem direto para o terminal.

“Hoje está até bom demais para ser verdade”, comentou o autônomo Marcos Silva, de 51 anos, que seguia para passar o Natal em Itaparica. “Mas eu sei que isso aqui vira outra coisa à noite. Já fiquei quase sete horas parado uma vez. Desde então, sempre tento chegar cedo.” Ao redor dele, outros motoristas compartilhavam histórias semelhantes, lembrando de noites viradas dentro do carro, crianças dormindo no banco de trás e refeições improvisadas à beira da fila.

Para dar conta do aumento do fluxo, o sistema ferry-boat opera em esquema especial de Verão, iniciado em 22 de dezembro e que segue até depois do Carnaval. Neste Natal, seis embarcações estão em atividade, trabalhando de forma contínua conforme a demanda: Zumbi dos Palmares, Dorival Caymmi, Anna Nery, Pinheiro, Maria Bethânia e Rio Paraguaçu. A operação é acompanhada em tempo real pela concessionária e pela Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia, que podem autorizar viagens extras e ajustes nos horários de saída.

Segundo estimativas oficiais, mais de 1,2 milhão de passageiros e cerca de 224 mil veículos devem utilizar o ferry-boat durante a temporada de Verão, número que inclui o período do Natal, Réveillon e festas subsequentes. A Agerba destaca que o crescimento projetado é de aproximadamente 5% em relação ao ano passado, o que mantém o sistema operando próximo do limite nos dias de maior procura.

Além do reforço da frota, medidas operacionais tentam minimizar o impacto das filas. O serviço de Hora Marcada segue disponível para parte das vagas, e há restrições à travessia de veículos pesados em horários estratégicos dos feriados, priorizando carros de passeio. Ainda assim, para muitos usuários, o ferry continua sendo um gargalo inevitável. “É o único caminho direto. Quando todo mundo resolve viajar ao mesmo tempo, não tem milagre”, resumiu a professora Ana Cláudia Nunes, de 39 anos, que aguardava o embarque com o marido e dois filhos.

Se no ferry-boat a espera se arrasta em filas visíveis, na Rodoviária de Salvador o movimento se espalha pelos corredores, plataformas e guichês. Desde o início da manhã, o fluxo de passageiros cresce gradualmente, com mochilas, malas grandes e sacolas de feira se misturando ao som constante dos anúncios de embarque. A expectativa da administração do terminal é de que o maior volume de passageiros se concentre entre a tarde e a noite desta véspera, seguindo até a manhã do dia de Natal.

Para muitos viajantes, a Rodoviária representa o primeiro passo de um retorno às origens. “Todo Natal eu faço esse trajeto. Salvador fica para trás e a gente vai se reconectar com a família”, disse a estudante Larissa Menezes, de 22 anos, que seguia para o interior do estado. O clima é de ansiedade, mas também de organização, com passageiros atentos aos horários e às orientações das empresas de transporte.

Assim como no ferry-boat, a Rodoviária também opera em esquema especial, com reforço de horários e linhas extras para atender à demanda típica do período. A orientação é que os passageiros cheguem com antecedência, já que o aumento do fluxo pode gerar filas para embarque e despacho de bagagens. Mesmo com a estrutura ampliada, o terminal também sente o impacto do movimento concentrado, especialmente nas rotas mais procuradas.

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