Por Tácila Calazans
Tenho andado encantada ultimamente com a teoria de Ferreiro
e Teberosky sobre a Psicogênese da Língua Escrita e sua real importância para o
trabalho de alfabetização que vai além da decodificação e codificação de
símbolos e letras. A teoria preocupa-se também com o letramento, com a “leitura
de mundo”, que Freire, grande educador e pesquisador brasileiro, já pontuava
que “precede a leitura da palavra”.
A teoria sinaliza para a necessidade de se observar as
implicações sociais de uso da escrita e para importância de relacioná-la com
este uso social. As famosas cartilhas (que são livros para ensinar a
decodificar e codificar) já não suprem essa necessidade de alfabetizar
letrando, como apontam teóricos e estudiosos da teoria de Ferreiro e Teberosky. Telma Weisz, pesquisadora brasileira, umas das pioneiras em
estudar a teoria de Ferreiro e Teberosky, em entrevista a Revista Nova Escola
(abril / 2012), destaca que “encarar a aprendizagem do código como uma etapa
técnica e independente do ingresso à cultura letrada é um equívoco”, ou seja, é
preciso alfabetizar letrando. Ensinar as correspondências grafofônicas dentro
de um contexto social significativo para as crianças (e adultos), mostrando que
o que se aprende na escola tem utilidade na vida diária.
O grande desafio de educadores em todo o Brasil tem sido
transportar os estudos desta teoria à prática em sala de aula. É necessário um
reaprender da práxis alfabetizadora. É preciso aprender a ensinar dentro da
proposta de alfabetizar letrando, porque por muito tempo se acreditou que as
crianças aprendiam igualmente e que bastava ensinar o BÊ-Á-BÁ que se
alfabetizaria. Também se acreditou em outra época que não precisava se ensinar
o BÊ-Á-BÁ, que a criança construiria sua aprendizagem sozinha.
A
esse respeito ainda pontua Telma Weisz na mesma entrevista, “os analfabetos
funcionais são frutos de uma escola que produz não-leitores e não-escritores”.
Assim, não basta ensinar gramática e regras ortográficas (embora isso não deva
ser excluído da prática), mas tão importante quanto ensinar essas regras, é
ensinar ao alfabetizando a refletir sobre a escrita. Ensiná-los a ler o mundo,
ensiná-los que ler não é apenas decodificar, mas é entender as entrelinhas e o
contexto do que se lê, fazer inferências sobre o lido transpor a leitura para a
sua vida diária.
Tal tarefa não é fácil. Requer tempo (tão raro na vida do
professor que precisa trabalhar 40, 60 horas semanais...), esforço e dedicação.
Requer estudo dessas teorias e de outras que possam contribuir para o bom
desempenho desse profissional tão mal reconhecido no nosso país. Só assim
conseguiremos ter um país letrado e sem analfabetos funcionais: oportunizando aos
professores acesso a novas teorias e estudos sobre alfabetização e dando
condições de permanência e investimento em tempo de estudo e aplicação em sala
de aula.
Como disse, no início deste texto, tenho andado encantada
ultimamente com a teoria de Ferreiro e Teberosky sobre a Psicogênese da Língua
Escrita, pois acredito que essa é uma possibilidade, por mim testada e
comprovada em sala de aula, para solucionar o problema que se alastra no
Brasil: analfabetismo funcional.
Por si só, também não é suficiente, mas é caminho, uma
possibilidade, uma tentativa de mudança desse cenário triste e desolador de
nosso amado Brasil. Vale a pena investir em estudo sobre essa teoria. Fica a
dica!
A prática da teoria de apropriação da escrita requer muto esforço por parte do professor, entretanto é um trabalho recompensador. Parabéns pela postagem!!!! O caminho é por aí mesmo...
ResponderExcluirComo em todas as áreas da vida, não acredito em erradicação de nada. Não sou pessimista, mais acho que essa possibilidade é a baixo do minimo, pois a educação no nosso país não é prioridade. Parabéns à autora do texto e, à a Voz do Baixo Sul pela postagem.
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