A morte do candidato dá contornos trágicos a uma campanha que parecia
definida. É cedo, além de inadequado, fazer qualquer previsão política
em um momento de luto e solidariedade, mas um ponto é possível destacar:
sem ele na disputa, a campanha se empobrece. Candidatos, jornalistas,
eleitores. Ficamos todos empobrecidos nesta manhã.Juntos, Campos e Marina teriam a oportunidade de se colocar como
alternativa a um embate político polarizado há 20 anos entre PT e PSDB.
Era deles a missão de sacudir essa polaridade com os questionamentos
certos. O debate era necessário, ainda que não apresentasse as respostas
definitivas . Não era tarefa fácil. Ficou ainda mais difícil. Apressados,
analistas políticos se engalfinharão nos próximos dias para dizer que,
passada a tristeza, a vida pedirá passagem, sem tempo para o luto ser
absorvido. É possível. Marina Silva será a candidata. Politicamente,
dirão que ela começa a campanha com um espólio de 20 milhões de votos
obtidos por ela em 2010. A estratégia de transferência de votos foi
encurtada pelo destino, dirão os especialistas. E caberá a ela ampliar
esse espólio. A análise faz sentido politicamente, mas na
prática a teoria é outra. Todas as perguntas que se seguem a uma
tragédia desta magnitude pertencem à dimensão humana, e não apenas
política. Marina Silva será agora a candidata a presidente pelo PSB. Mas
como? Com que rosto? Com que forças? Com que ânimo? Se há algo em comum
nos cartazes e vídeos de campanha é o sorriso dos candidatos. Só que
nunca, como agora, a alegria ficou tão fora do tom. Como fazer campanha,
então? Campos foi um governador popular, querido em Pernambuco e tinha tudo para conquistar uma fatia do eleitorado nacional. Tinha carisma, boas ideias e currículo. Basta lembrar que ele deixou como legado um Estado melhor do que aquele que recebeu.
A comoção por sua morte fará dele uma figura simbólica a exemplo do
avô, Miguel Arraes, cujo projeto político fora interrompido pelos
militares após o golpe de 1964. O neto tinha como missão resgatar esse
país interrompido. Morreu no mesmo dia da morte do avô. Enquanto
esteve em campanha, o slogan de Campos pedia mudanças. Mais
precisamente, pedia coragem para mudar. Era uma arma política. Hoje
virou um prelúdio. E um desafio a quem se propor, a partir de agora, a
assumir, mais que um discurso, uma missão. Uma missão que, em suas
últimas palavras, eram resumidas como o “sonho de um Brasil melhor”.
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