Mãe Bárbara do Terreiro Caxuté
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professor tem que andar rotineiramente com prazer,
fazer caminhadas sadias, relaxar da carreira do cotidiano, viajar sempre que
for possível, caminhar aproveitando as "caminhadas". O professor de
qualquer meio precisa ter sua alma cuidada, não necessariamente só pelo viés
religioso. "Amar a teu próximo como a ti mesmo", porque a fé de um
professor, ou melhor, de um educador é ter o dever do ensino/aprendizagem
cumprido. O professor muitas vezes só consegue passar o que ele acha que é
melhor para os alunos, mas não consegue fazer com que seus alunos enxerguem os
seus valores de professor, e com isso deixa que os alunos construam críticas
destrutivas.
No momento em
que eu chego ao meu terreiro, a minha autoestima é de fato valorizada, assim
como o meu conhecimento e a minha forma de ser, mas, no momento em que eu
observo que as pessoas não querem me respeitar e me deixar ser educada, eu
passo a ser mal educada, a gritar, berrar e fazer um monte de coisas. Mesmo que
eu esteja fazendo algo com amor, eu já fico aborrecida com aquelas pessoas. Na
verdade, a gente acredita que vai fazer algo porque precisa da valorização
daquela pessoa, mas a gente percebe que a outra pessoa não está valorizando a gente,
porque acha que é uma obrigação sua. Assim, já não dá prazer.
Eu, por
exemplo, quando levantei da minha cama no terreiro, não tive tempo de pentear
meu cabelo porque eu tinha que cuidar de alguém. A outra pessoa não entende
isso? Não entende eu ter que sair correndo para poder socorrer alguém, ou sair
descalça porque não tive tempo. Quem tem que valorizar não é o que está lá na
rua, que não sabe o que está acontecendo, mas sim aquele que sabe o que está
acontecendo. Em resumo, esses alunos são
assim tanto no terreiro quanto na faculdade.
Eu vejo a forma
como o professor gostaria, em primeiro lugar, de ser valorizado, porque, no
momento em que ele chega na escola, o professor quer depositar o melhor. Por
que o melhor? Porque ele quer valorizar aquele aluno para que ele seja
realmente o seu discípulo, mas muitas vezes o aluno não consegue observar aquilo
que o educador está passando.
O aluno, muitas
vezes, está em um outro sentido e não consegue capturar nem absorver o que está
sendo passado para aquele indivíduo. Daí, passa a encarar que ele não é um bom
educador e que ele não prepara o conteúdo ideal esperado pelo aluno. No
entanto, muitas vezes o professor não é valorizado pelo aluno porque o aluno
tem um tal comportamento e seque está prestando atenção no que o professor está
dizendo. Então, aquilo deixa de ser prazeroso para o indivíduo, bem como para a
autoestima do professor, que já chega desmotivado na sala de aula também por
causa do dia a dia, da correria do supermercado, banco, trânsito...
O aluno também
já chega desgastado na sala de aula, de modo que ele quer relaxar a mente, mas se
depara com um conteúdo tão “abusado”, tão chateado, que o aluno geralmente não
se interessa. O professor se sente angustiado de estar ali, como se ele
estivesse sendo uma pessoa inútil muitas das vezes, porque o rendimento é muito
pouco.
O professor tem
a sua autoestima elevada quando, em todos os momentos, é observado com críticas
construtivas, não só as destrutivas. Certa vez, o professor José Pessoa me pediu
que eu avaliasse a aula dele. Ele me perguntou qual era a qualidade de educador
que nós gostaríamos de ter para os nossos filhos. Ao final da minha avaliação,
eu disse que gostaria realmente tivessem professores comprometidos com o meu
filho como ele estava sendo na sala. Eu cheguei ao ponto de dizer que os 250
reais pagos pela mensalidade da faculdade já tinham valido a pena.
Por causa daquela
aula bem proveitosa, eu consegui de fato absorver aquilo que eu estava
necessitando naquele momento e consegui também ver a autoestima dele, o seu
comportamento, a forma com que ele chega realmente cansado da rotina da vida. Ele
é uma pessoa que ele trabalha na polícia, já chega também com a mente cansada,
mas nos diz que, se nós também quisermos chegar a algum lugar, temos que
realmente nos encontrar, levantando a autoestima dos alunos.
Na nossa
sociedade, o professor está muito carente de tudo, principalmente de
remuneração. É muito difícil encarar uma sociedade com tanta baixa autoestima. Para
melhorar a qualidade do nosso ensino, precisamos melhorar os equipamentos, mas
principalmente a qualidade de vida tanto para o professor e quanto para o
aluno. Um bom livro é muito importante, mas hoje contamos com o avanço da
internet, e poucos educadores têm conhecimento disto, porque são tecnologias
novas e muito cobradas.
Portanto, é
importante que haja o equipamento na sala de aula e que técnicos possam dar
esse subsídio aos alunos e até mesmo aos professores, para que eles possam manusear.
Muitas vezes, isso passa despercebido, porque o professor não tem esse
conhecimento.
É muito difícil
para o professor que não conhece as novas tecnologias. Um professor que tem
cinquenta anos, mas que não tem esse conhecimento, passa a ser uma pessoa
dominada pelos próprios alunos.
A pedagogia pode
contribuir para o educador não só na sala de aula, mas sim em todos os meios em
que vivemos como, por exemplo, um terreiro de candomblé, que é um meio político
e de tensão pedagógica. A faculdade propicia troca de experiência, mas no
Terreiro Caxuté eu vivo numa faculdade ou até mais que isso. Na FAIBRA e no
IESTE, eu simplesmente confirmo aquilo que eu vejo em todos os momentos.
Uma educação de
qualidade se limita apenas a uma sala de aula? Não, porque apenas através da educação,
o modo formal que é valorizado, a gente não consegue se elevar tanto cá fora,
porque o que é válido está, infelizmente, só na faculdade. Tudo que se faz na
prática aqui fora, lá na academia é feito na teoria. Em resumo, é valorizado na
ciência e menos valorizado na prática.
Foi criada uma
rede para valorizar o conhecimento científico e não só as comunidades tradicionais.
Graças ao poder da mídia de massa, tudo que a gente pratica só é valorizado no
nosso conhecimento, Mas não é valorizado no campo científico. Quando o
pesquisador vai até a fonte e passa a observá-la, a ver como fazer e analisar,
ele se torna muito mais valorizado de que aquele que está lá fazendo no cotidiano.
O poder da
mídia é grande. A tecnologia dos computadores, rádio e televisão é muito mais
avançada do que aquele indivíduo que está plantando o seu feijão, produzindo,
botando a mão na massa, para que possa um dia vendê-lo. A mídia imediatamente transforma
tudo com a maior rapidez.
A Pedagogia do
Terreiro é todo aquele trabalho não formal que na nossa casa é valorizado, mas
que não é tão valorizado pelo campo científico. No meu terreiro, por exemplo, nós
defendemos a Pedagogia do Terreiro escrevendo. Temos uma quantidade grande de pessoas
que não sabem ler e escrever, e que estão desmotivadas. Nós defendemos a
valorização daqueles indivíduos. Já que o sujeito está cansado e não tem autoestima
suficiente para ir até o colégio formal, nós conseguimos, através da Pedagogia
do Terreiro, que ele escreva a palavra “acaçá”. Aquele indivíduo que está lá
dentro já sabe o que é o acaçá, então ele só vai aprender o que é “acaçá” para a
ciência.
Em suma, tudo
que não é formal, nós conseguimos, através da pedagogia formal, trabalhar
cientificamente o que é feito no dia a dia. No nosso espaço, a Pedagogia do
Terreiro defende que todas as pessoas do terreiro são educadores, porque existe
uma hierarquia. Quando a pessoa chega ao terreiro, ela se chama Abiã, aquela
que vai se iniciar. Depois de iniciada, ela passa a ser um Yawó (Iaô). Quando
passa disso, ela cresce em grau e se torna uma pessoa de nível maior, como em
qualquer outra sociedade.
Aos professores
do IESTE*, deixo a mensagem que nós não podemos só observar o “melhor do outro
lado”, mas sim que nós podemos fazer o melhor.
NOTA:
Este ensaio é
um texto oral, transcrito por Táta Luangomina, com revisão ortográfica de Cadu
Oliveira da UFBA, produzido Por Mãe Bárbara como atividade da disciplina de
Antropologia Cultural, do curso de Pedagogia, ministrada pelo professor Major
Pessoa.
Sobre a autora:
Maria Balbina dos Santos, conhecida publicamente por Mãe Bárbara do Terreiro
Caxuté, ou de Cajaiba, é diretora da Primeira Escola e Religião e Cultura de
Matriz Africana do Baixo Sul da Bahia (ESCOLA CAXUTÉ), presidenta da ACULTEM,
vice-presidenta do Conselho Municipal das Mulheres (CONDIM), Conselheira de
Cultura de Valença, graduanda em Pedagogia pelo Instituto de Educação Social
Tecnológico (IESTE)*, Sacerdotisa Afro do Terreiro Caxuté (mameet´u dyá nkise),
e ainda é poetisa afro-brasileira.
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