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segunda-feira, 30 de março de 2015

EDITORIAL: A AUTOESTIMA DO PROFESSOR

Mãe Bárbara do Terreiro Caxuté

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 professor tem que andar rotineiramente com prazer, fazer caminhadas sadias, relaxar da carreira do cotidiano, viajar sempre que for possível, caminhar aproveitando as "caminhadas". O professor de qualquer meio precisa ter sua alma cuidada, não necessariamente só pelo viés religioso. "Amar a teu próximo como a ti mesmo", porque a fé de um professor, ou melhor, de um educador é ter o dever do ensino/aprendizagem cumprido. O professor muitas vezes só consegue passar o que ele acha que é melhor para os alunos, mas não consegue fazer com que seus alunos enxerguem os seus valores de professor, e com isso deixa que os alunos construam críticas destrutivas.
No momento em que eu chego ao meu terreiro, a minha autoestima é de fato valorizada, assim como o meu conhecimento e a minha forma de ser, mas, no momento em que eu observo que as pessoas não querem me respeitar e me deixar ser educada, eu passo a ser mal educada, a gritar, berrar e fazer um monte de coisas. Mesmo que eu esteja fazendo algo com amor, eu já fico aborrecida com aquelas pessoas. Na verdade, a gente acredita que vai fazer algo porque precisa da valorização daquela pessoa, mas a gente percebe que a outra pessoa não está valorizando a gente, porque acha que é uma obrigação sua. Assim, já não dá prazer.
Eu, por exemplo, quando levantei da minha cama no terreiro, não tive tempo de pentear meu cabelo porque eu tinha que cuidar de alguém. A outra pessoa não entende isso? Não entende eu ter que sair correndo para poder socorrer alguém, ou sair descalça porque não tive tempo. Quem tem que valorizar não é o que está lá na rua, que não sabe o que está acontecendo, mas sim aquele que sabe o que está acontecendo. Em resumo,  esses alunos são assim tanto no terreiro quanto na faculdade.
Eu vejo a forma como o professor gostaria, em primeiro lugar, de ser valorizado, porque, no momento em que ele chega na escola, o professor quer depositar o melhor. Por que o melhor? Porque ele quer valorizar aquele aluno para que ele seja realmente o seu discípulo, mas muitas vezes o aluno não consegue observar aquilo que o educador está passando.
O aluno, muitas vezes, está em um outro sentido e não consegue capturar nem absorver o que está sendo passado para aquele indivíduo. Daí, passa a encarar que ele não é um bom educador e que ele não prepara o conteúdo ideal esperado pelo aluno. No entanto, muitas vezes o professor não é valorizado pelo aluno porque o aluno tem um tal comportamento e seque está prestando atenção no que o professor está dizendo. Então, aquilo deixa de ser prazeroso para o indivíduo, bem como para a autoestima do professor, que já chega desmotivado na sala de aula também por causa do dia a dia, da correria do supermercado, banco, trânsito...
O aluno também já chega desgastado na sala de aula, de modo que ele quer relaxar a mente, mas se depara com um conteúdo tão “abusado”, tão chateado, que o aluno geralmente não se interessa. O professor se sente angustiado de estar ali, como se ele estivesse sendo uma pessoa inútil muitas das vezes, porque o rendimento é muito pouco.
O professor tem a sua autoestima elevada quando, em todos os momentos, é observado com críticas construtivas, não só as destrutivas. Certa vez, o professor José Pessoa me pediu que eu avaliasse a aula dele. Ele me perguntou qual era a qualidade de educador que nós gostaríamos de ter para os nossos filhos. Ao final da minha avaliação, eu disse que gostaria realmente tivessem professores comprometidos com o meu filho como ele estava sendo na sala. Eu cheguei ao ponto de dizer que os 250 reais pagos pela mensalidade da faculdade já tinham valido a pena.
Por causa daquela aula bem proveitosa, eu consegui de fato absorver aquilo que eu estava necessitando naquele momento e consegui também ver a autoestima dele, o seu comportamento, a forma com que ele chega realmente cansado da rotina da vida. Ele é uma pessoa que ele trabalha na polícia, já chega também com a mente cansada, mas nos diz que, se nós também quisermos chegar a algum lugar, temos que realmente nos encontrar, levantando a autoestima dos alunos.
Na nossa sociedade, o professor está muito carente de tudo, principalmente de remuneração. É muito difícil encarar uma sociedade com tanta baixa autoestima. Para melhorar a qualidade do nosso ensino, precisamos melhorar os equipamentos, mas principalmente a qualidade de vida tanto para o professor e quanto para o aluno. Um bom livro é muito importante, mas hoje contamos com o avanço da internet, e poucos educadores têm conhecimento disto, porque são tecnologias novas e muito cobradas.
Portanto, é importante que haja o equipamento na sala de aula e que técnicos possam dar esse subsídio aos alunos e até mesmo aos professores, para que eles possam manusear. Muitas vezes, isso passa despercebido, porque o professor não tem esse conhecimento.
É muito difícil para o professor que não conhece as novas tecnologias. Um professor que tem cinquenta anos, mas que não tem esse conhecimento, passa a ser uma pessoa dominada pelos próprios alunos.
A pedagogia pode contribuir para o educador não só na sala de aula, mas sim em todos os meios em que vivemos como, por exemplo, um terreiro de candomblé, que é um meio político e de tensão pedagógica. A faculdade propicia troca de experiência, mas no Terreiro Caxuté eu vivo numa faculdade ou até mais que isso. Na FAIBRA e no IESTE, eu simplesmente confirmo aquilo que eu vejo em todos os momentos.
Uma educação de qualidade se limita apenas a uma sala de aula? Não, porque apenas através da educação, o modo formal que é valorizado, a gente não consegue se elevar tanto cá fora, porque o que é válido está, infelizmente, só na faculdade. Tudo que se faz na prática aqui fora, lá na academia é feito na teoria. Em resumo, é valorizado na ciência e menos valorizado na prática.
Foi criada uma rede para valorizar o conhecimento científico e não só as comunidades tradicionais. Graças ao poder da mídia de massa, tudo que a gente pratica só é valorizado no nosso conhecimento, Mas não é valorizado no campo científico. Quando o pesquisador vai até a fonte e passa a observá-la, a ver como fazer e analisar, ele se torna muito mais valorizado de que aquele que está lá fazendo no cotidiano.
O poder da mídia é grande. A tecnologia dos computadores, rádio e televisão é muito mais avançada do que aquele indivíduo que está plantando o seu feijão, produzindo, botando a mão na massa, para que possa um dia vendê-lo. A mídia imediatamente transforma tudo com a maior rapidez.
A Pedagogia do Terreiro é todo aquele trabalho não formal que na nossa casa é valorizado, mas que não é tão valorizado pelo campo científico. No meu terreiro, por exemplo, nós defendemos a Pedagogia do Terreiro escrevendo. Temos uma quantidade grande de pessoas que não sabem ler e escrever, e que estão desmotivadas. Nós defendemos a valorização daqueles indivíduos. Já que o sujeito está cansado e não tem autoestima suficiente para ir até o colégio formal, nós conseguimos, através da Pedagogia do Terreiro, que ele escreva a palavra “acaçá”. Aquele indivíduo que está lá dentro já sabe o que é o acaçá, então ele só vai aprender o que é “acaçá” para a ciência.
Em suma, tudo que não é formal, nós conseguimos, através da pedagogia formal, trabalhar cientificamente o que é feito no dia a dia. No nosso espaço, a Pedagogia do Terreiro defende que todas as pessoas do terreiro são educadores, porque existe uma hierarquia. Quando a pessoa chega ao terreiro, ela se chama Abiã, aquela que vai se iniciar. Depois de iniciada, ela passa a ser um Yawó (Iaô). Quando passa disso, ela cresce em grau e se torna uma pessoa de nível maior, como em qualquer outra sociedade.
Aos professores do IESTE*, deixo a mensagem que nós não podemos só observar o “melhor do outro lado”, mas sim que nós podemos fazer o melhor.
NOTA:
Este ensaio é um texto oral, transcrito por Táta Luangomina, com revisão ortográfica de Cadu Oliveira da UFBA, produzido Por Mãe Bárbara como atividade da disciplina de Antropologia Cultural, do curso de Pedagogia, ministrada pelo professor Major Pessoa.
Sobre a autora: Maria Balbina dos Santos, conhecida publicamente por Mãe Bárbara do Terreiro Caxuté, ou de Cajaiba, é diretora da Primeira Escola e Religião e Cultura de Matriz Africana do Baixo Sul da Bahia (ESCOLA CAXUTÉ), presidenta da ACULTEM, vice-presidenta do Conselho Municipal das Mulheres (CONDIM), Conselheira de Cultura de Valença, graduanda em Pedagogia pelo Instituto de Educação Social Tecnológico (IESTE)*, Sacerdotisa Afro do Terreiro Caxuté (mameet´u dyá nkise), e ainda é poetisa afro-brasileira.


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