Relatório recente da Eurasia Group, uma das mais respeitadas consultorias de análise política do mundo, ressalta que “Bolsonaro enfrentará um caminho difícil para reeleição”, pois, “atualmente, ele tem um índice de aprovação de cerca de 30%”, mas, “de acordo com um conjunto de dados de mais de 300 eleições compilado pela IPSOS, que corresponde aos índices de aprovação antes da eleição com chances de vitória, Bolsonaro precisaria superar 40% de apoio”. Com 30% de apoio, a chance de Bolsonaro ser reeleito é de 19%, mas isso não quer dizer que não há margem para o presidente recuperar-se a tempo.
E o que a Bahia tem com isso? ACM Neto negou publicamente que tivesse indicado João Roma para o Ministério da Cidadania, embora não haja sinais claros de ruptura do criador com a criatura. Roma foi alçado para cuidar de um orçamento de bilhões de reais, tornando-se, inclusive, um “porta-voz” dos aliados de Neto nas andanças pelos gabinetes de Brasília.
Passados alguns meses, vê-se um “jogo de compadre” entre Neto e Roma, com um afastamento calculado, pois Roma se movimenta na Bahia nas bases de Neto, com aval para tentar atrair prefeitos da base aliada de Rui Costa. Lançar-se candidato a governador para criar um palanque para Bolsonaro não será possível sem o interesse de ACM Neto, forçando um segundo turno. Vale lembrar que 40% dos votos de Roma (33.567 de 84.455) para deputado federal foram colhidos em Salvador; logo, as suas bases estão ligadas à máquina municipal da qual fez parte até 2018.
As falas do prefeito Bruno Reis (DEM), com deferências à presença de Bolsonaro em Salvador, correspondem à lógica de que Neto não vai dispensar as forças bolsonaristas; ao contrário, vai abrigá-las de olho na sua sobrevivência política. João Roma é o centro desta estratégia.
Estamos diante de três pré-candidaturas ao governo baiano, com tempos políticos diferentes: João Roma, em compasso de espera acerca do que farão Bolsonaro e Neto na Bahia, vê sua pré-campanha até aqui depender da caneta do governo federal, sem que haja um milímetro de discordância ou crítica a seu criador na política baiana.
ACM Neto se movimenta abertamente, azeitando os pontos fracos do legado petista na Bahia, enquanto vai organizando apoios e adesões à criação de seu novo partido, o União Brasil.
Já o PT vive o consenso em torno da necessidade de lançar o senador Jaques Wagner mais uma vez ao governo, porém demonstra pouca ou nenhuma intenção de fazer um balanço profundo dos erros e acertos cometidos nos últimos anos; tampouco revela de que forma apresentará um programa renovado e crítico para continuar liderando a política baiana. Quais aliados dos petistas toparão debater o que virou a Bahia pós-carlista de 2007 para cá?
*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).
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